Índice
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Introdução
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Fatores de Risco para a Saúde Mental dos Policiais Militares
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Evidências de Adoecimento e Suicídio
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Sobrecarga de Trabalho
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Violência Urbana e Pressão Constante
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Políticas Públicas e Deficiências Estruturais
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Considerações Finais
1. Introdução
Não é de hoje que a saúde mental de Policiais Militares no Brasil tornou-se um tema incontornável na agenda de Segurança Pública e, por consequência, de saúde coletiva. O trabalho policial conjuga alta exposição à violência, jornadas extensas e imprevisíveis, pressão por resultados, baixa previsibilidade de renda (com frequentes descontos e dívidas), incertezas sobre reajustes salariais, além de uma cultura organizacional que historicamente desestimula a busca de ajuda psicológica.
2. Fatores de Risco para a Saúde Mental dos Policiais Militares
É visível o adoecimento e risco entre os Policiais Militares de todo o Brasil, o que muito embora tenha ocorrido uma pequena redução de 8% nos números de suicídios, ainda assim, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Publica de 2025, o Brasil registrou em 2024 pelo menos 126 casos de suicídio entre os Policiais.
As razões para esse lamentável e elevado número são diversas: prevalências expressivas de estresse ocupacional, sintomas depressivos e ansiosos, além de burnout, o que por sua vez demanda políticas específicas.
Vale lembrar que o estresse financeiro e endividamento está presente nesse cenário como fator transversal de sofrimento psíquico, já que, segundo dados de pesquisas, cerca de 70% dos servidores públicos no Brasil, desses obviamente, estão incluídos os Policiais Militares, estão com suas margens consignáveis estouradas, ou seja, bem acima do limite, tendo muitos desses que recorrer ao Poder Judiciário para fins de readequação dos descontos e assim, manter suas subsistências e de suas famílias. Nesse particular, ainda tem um detalhe: nem todos conseguem esse socorro junto ao Poder Judiciário, pois algumas decisões ainda determinam que não há como readequar os descontos e que a pessoa deve arcar com seus compromissos assumidos.
Óbvio que uma situação desse tipo contribui de forma crucial ao agravamento do estado psíquico do ser humano, já que a esperança que essa pessoa tinha para amenizar a situação é descartada de forma abrupta.
3. Evidências de Adoecimento e Suicídio
Nesse caminho, buscando solucionar os problemas financeiros, em alguns casos, a maioria, o Policial Militar realiza atividades laborais paralelas ao serviço da corporação, os chamados “bicos”, que infelizmente, além de não resolver o fator financeiro, ainda acabam gerando outro problema: sobrecarga de trabalho.
4. Sobrecarga de Trabalho
Essa sobrecarga de trabalho se resume ao policial cumprir sua carga horária normal, tecnicamente chamado serviço ordinário, a realização de serviços extras remunerados (cada estado tem uma nomenclatura diferente), que são aqueles em que o policial pode optar por permanecer de folga ou realizar determinado trabalho naquele período que seria para ele descansar, bem como a realização dos “bicos”.
Nesse último caso, como não é regulamentado, inexiste qualquer previsão de descanso, o que faz com que, em alguns casos, o policial saia de serviço pela manhã, por exemplo, às 7h, de uma escala em que teve que trabalhar a noite toda, e já inicia sua nova jornada de 6, 8 e até 10 horas de trabalho, aumentando, assim, a fadiga, privação de sono e irritabilidade.
É indiscutível que uma rotina dessa seja considerada sobrecarga e que isso traz malefícios à saúde do ser humano. Mas, por outro lado, ainda que não venhamos a concordar, é compreensível, pois, na maioria dos casos, o instinto de sobrevivência fala mais alto.
5. Violência Urbana e Pressão Constante
Ainda como ingrediente desfavorável à saúde mental dos Policiais Militares no Brasil, temos a escalada da violência urbana que aumenta a cada dia com a proliferação das facções, o que acaba gerando uma pressão constante.
Segundo informações divulgadas pela Folha do Estado, em um único ano, o Brasil registrou 10% das mortes violentas do mundo todo. Isso é um número alarmante!
Como poderá um profissional de segurança pública sair de casa para exercer seu ofício e deixar sua família em casa, sabendo que ambos estão em um ambiente propício à violência? Não há dúvida de que esse fator, aliado aos demais já mencionados, contribui diretamente ao adoecimento da saúde mental, em especial do Policial Militar.
6. Políticas Públicas e Deficiências Estruturais
Por outro lado, temos a inexistência de políticas públicas que efetivamente funcionem. Há escassez de profissionais de saúde à disposição dos Policiais Militares, uma administração ineficaz, que não cria mecanismos para proporcionar uma melhor escala de trabalho aos profissionais, como, por exemplo, cumprir o que determina a lei e aumentar o efetivo da corporação, já que a maioria dos estados opera hoje com no máximo 70% do efetivo previsto.
Se o Estado cumprir a lei e colocar no efetivo da Polícia Militar o número previsto, certamente haverá uma escala mais equilibrada para o profissional, melhorando sua qualidade de vida e garantindo à sociedade um policiamento mais produtivo.
Outra medida que poderia trazer reflexos diretos na saúde mental do Policial Militar seria a imediata implantação de Educação Financeira. Essa é uma deficiência do Estado não apenas para com os profissionais de segurança pública, mas também com a sociedade em geral. Embora a educação seja inicialmente obrigação da família, ainda assim está previsto na Constituição Federal que cabe também ao Estado.
7. Considerações Finais
Como se pode perceber, os fatores responsáveis pela atual saúde mental dos Policiais Militares vão muito além de simples patologias clínicas, sendo reflexo direto da ineficiência do Estado em aplicar medidas públicas eficazes, não apenas diretamente aos Policiais Militares, mas à sociedade como um todo.
Fontes:
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Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 – Dados sobre suicídios de Policiais Militares.
Disponível em: hjur.com.br -
JusBrasil – Servidor público endividado: descubra como sair dessa situação hoje.
Disponível em: jusbrasil.com.br -
Folha do Estado – Relatório da ONU aponta Brasil como líder global em homicídios.
Disponível em: folhadoestado.com.br